domingo, 8 de abril de 2018

Coração

Sempre gostei de olhar para trás, e sentir a minha evolução, o meu crescer e aprender, ao longo de horas, dias, anos... É bonito e é fascinante a forma como o nosso cérebro evolui e se molda a tudo o que o rodeia, forma ideias e opiniões, e na verdade, há tanto que muda, que por vezes, em alguns casos, já nem se partilha nada com o passado.

Em mim, há uma linha muito comum com o que eu era há vários anos atrás. Os gostos, as ideias, a música, os interesses. Com 19 anos emprestaram-me o Live At Acropolis do Yanni, um género a tocar na música Clássica. Na semana passada, com 33, comprei esse mesmo álbum, original, e um DVD do mesmo artista. Aos 15 anos sonhava explorar a electrónica Opel, descobrir como funcionava, dissecar até ao mais ínfimo pormenor, cada detalhe, especialmente nos modelos mais incomuns. Ontem, programei um computador de bordo numa Opel Sintra. Com 16 anos sonhava em fazer locução numa rádio, e "apoderei-me" numa tarde, da rádio da escola, de forma ilícita... Na semana passada fui eleito como um dos directores da rádio voz da ria de Estarreja. E assim, a vida segue, delineando-se por onde a sonhei, sem drásticas mudanças, a não ser o meu vincado ateísmo, e... o meu coração.
   
O meu coração tem mudado, mudado muito, e já quase não o reconheço. Tornei-me distante, frio e isolado, sem paciência para sentimentos, os meus, e os dos outros por mim. Paixões e amores fortes, os de outrora, mas que escavaram dor, lágrimas, e noites sem dormir. A camada protectora que se formou, tornou-me agora imune à dor emocional. Chorei mais a morte do Stephen Hawking, que choraria o fim de uma relação. Dói-me mais um animal abandonado, que o abandono emocional. Não é que possamos quantificar, e é claro que são dores diferentes, mas... tornei-me estranho.
Hoje passei a tarde a trabalhar, por minha conta, em casa, no meu mundo. Rodeado por electrónica, displays, equipamentos de navegação e derivados. O som de fundo fez-se ouvir pela banda sonora do filme "A Teoria de Tudo", que relata a história e vida de Stephen Hawking.

E hoje... hoje reflecti muito sobre isto, e questionei-me, se estarei a fazer o correcto. Senti saudades do meu passado emocional, do bom e do mau da minha última relação. Senti vontade de lhe escrever e dizer apenas "não me esqueci de ti". E não, na verdade não me esqueci de ninguém de quem passou pela minha vida, não me esqueci nem esqueço do bem que cada pessoa me faz ou me fez. No entanto, não consigo "aquela entrega", aquele amar desmedido e irracional, que tanta falta faz nos nossos dias.
Tornei-me assim, racional, cerebral, lógico, e a procurar pontos de optimização em cada detalhe.

Uma vida de entrega à música, à electrónica, e a um ou outro sonho mais estapafúrdio. Mas... E o amor? E o coração? Não sei... Espero um dia mudar, porque preciso, urgentemente, de perceber que aquilo a que chamamos de paixão e amor, não morreu em mim.

5 comentários:

  1. Entrei aqui por acaso e deixo apenas um sorriso porque sempre me disseram que, às vezes, vale mais que 1000 palavras :)

    Talvez passe mais tarde e saiba dizer "mais qualquer coisa"...

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  2. Obrigado! :-)

    Creio que a melhor resposta a todo este rol de pensamentos é, precisamente, o sorriso.

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  3. O teu questionamento é perfeitamente coerente. Acredito que a vida seja feita de fases, e a fase do amor e da paixão talvez esteja para chegar. Os tempos não ajudam, somos extremamente mentais e pouco emocionais. Eu sei, não é uma opinião positivista, mas não dá para mais :p.

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    1. Obrigado pelo comentário ;-)
      Confesso que gostava de sentir isso. Conheço pessoas, cruzam-se seres humanos incríveis na minha vida, mas despertar aquele amor, aquela paixão, aquelas borboletas na barriga... é coisa complicada, e inexistente há muitos muitos anos. Tocas no ponto, e eu sou um caso extremista disso - extremamente mental/racional, e cada vez menos emotivo. Confesso que sinto falta dessa componente, confesso que gostava de me voltar a apaixonar, de sentir que todo e qualquer sacrifício é válido por alguém.
      Não foi uma opinião muito positiva, mas foi racional, hehehe :-P

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  4. Ui...(excelente texto)
    quanto este texto me diz...somos muitos nesta situação. Conformismo? Ainda sonho com o impossível, se alguma vez ele exista. Temos que enfrentar a realidade e construir novos sonhos, afinal eles comandam a nossa vida...

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